terça-feira, 19 de maio de 2009

Veneza



Continuando com o passeio pela Itália, vamos pular parte do que fizemos nos cinco primeiros dias, viajando de trem desde Milão apenas com o passaporte e as roupas do corpo (vide texto anterior), para falar da famosa cidade de Veneza (f).
Veneza (em italiano Venezia) fica na província de Veneza, no nordeste da Itália, e tem cerca de 266.181 habitantes. Estende-se por uma área de 412 Km2, incluindo as ilhas de Murano, Burano Torchello e outras. Tornou-se uma potência comercial a partir do século X, quando sua frota já era uma das maiores da Europa. Foi uma das cidades mais importantes da época. Na verdade, um império de influência 'mundial' comandado pelos Doges, os líderes da cidade. Controlava várias rotas comerciais, cidades - como Negroponto e Dyrrhachium (atual Durres) -e ilhas inteiras: Creta, Rodes, Cefalônia e Zante, por exemplo. De fato, os palácios e monumentos denotam passado glorioso e opulento. O simbolo da cidade é o leão, visto em muitos edifícios.
Quando se desembarca na cidade, imediatamente você é tomado por uma sensação de que está em um lugar diferente, muito especial. Além da aura mitológica do lugar e expectativa inerente a primeria vez, o êxtase da chegada talvez se deva ao fato de Veneza estar tomada de turistas por todos os lados e suas ruelas estreitas lembrarem algo como a derrubada da Torre de Babel: centenas de pessoas falando em idiomas diferentes:
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São dois pontos em comum entre os visitantes: sorrisos largos e câmeras fotográficas à mão. Outro fato que chama muita a atenção é a ausência de automóveis e isso é uma benção! Inúmeras praças pequenas, ruas estreitas, sinuosas e com caminhos repletos de pequenas pontes e passarelas que passam sobre os canais. Por mais que voce tenha visto isso nos filmes, ao vivo é outra coisa. Digo isso por experiência própria: não me empolguei muito com a idéia até chegar lá. Cidade cheia de canais e gondoleiros cantando? Parecia muito piegas, muito clichê.. Mas que nada!, Veneza é o bicho!
Você pode andar horas e horas pelas pequenas pontes e incontáveis praças, observando cada detalhe da arquitetura centenária. Que cidade bonita! Parece mesmo que você está num filme e o passeio de gondola, por mais caro que se apresente (entre 80 e 180 euros), não pode ficar de fora. Arrume mais brasileiros para 'rachar' o valor:
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Por sinal, uma ótima dica sobre Veneza é acordar MUITO cedo e ir direto para a famosa praça São Marcos. Durante o dia ela fica tão apinhada de gente que é impossível tirar uma foto sem que apareça um alemão, uma inglesa e um chinesinho atrás de você. De manha cedo a praça fica vazia, com um ou outro passando provavelmente indo trabalhar:
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Os canais fazem inúmeras voltas e não é nada fácil se localizar, mesmo com um bom mapa. Certa noite após jantar em um restaurante buffet, talvez o único na cidade, acompanhados de uma garrafa de vinho, rodamos muito até achar nosso hotel. A cidade vista de cima, com destaque para o grande canal:
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É classificada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Dos muitos monumentos e locais turísticos existentes, destacam-se a imponente Basílica de São Marcos, na Praça de mesmo nome, a famosa Ponte de Rialto sobre Grande Canal, construída em 1588, a Ca’d’Oro e numerosas igrejas e museus.
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Outro passeio importante é até as ilhas de Murano, Burano e Torchello. Geralmente nos hotéis, oferecem o passeio até Murano, para conhecer uma fábrica tradicional de cristais sem pagamento algum. Obviamente a idéia é encantar os turistas para que eles comprem cristais de lembrança da ocasião. Vá sem medo, observe com atenção ao espetáculo (abaixo) e aprecie as peças em exposição (no interior da loja não é permitido fotografar):
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Se não desejar comprar nada, não tenha vergonha e saia de cabeça erguida. Ninguém disse que tinha de comprar e o valor cobrado é absurdamente alto, mesmo se comparado com outras lojas na mesma ilha. 'Despachamos para o mundo inteiro', eles insistem. Saia da fábrica e aproveite para conhecer o resto da ilha de Murano, Burano e Torchello. Para as duas últimas, tem de pegar outro barco, mas o passeio vale a pena:
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A volta é por Lido e do barco é possível ver a imensa barreira que construíram para tentar evitar que Veneza afunde com a força das marés:
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A cidade é ainda famosa pelos seus certames internacionais, como o Festival de Cinema e a Bienal de Artes, pela Regata Histórica que ocorre no primeiro domingo de setembro e pela celebração do Carnaval em trajes e mascaras típicas. Os hotéis são caros e as lojas mais ainda. A comida não é barata, mas no final todos vão a Veneza e o passeio vale cada centavo:
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Desculpem a qualidadezinha sofrível dos videos. Eles valem mais a pena para ilustrar o texto do que para qualquer outra coisa. Mas com a pratica vamos aperfeiçoando.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Quem tem boca vai a Roma.

Olá! Desta vez é de verdade: vamos começar com a Itália. O país que possuiu 40% das obras de arte antigas na europa, incluindo farto patrimonio arquitetônico.
Temos fotos (847), videos e muita coisa a relatar como, por exemplo, que Roma é um imenso museu a céu aberto; que Veneza (f) é de fato maravilhosa; que Florença é o berço da cultura renascentista; que o Vaticano tem mais ouro do que 'Serra-pelada' jamais sonhou, e; que é possível andar mais de 10 horas por dia, durante duas semanas a fio (arf!) etc etc.

Mas antes de tratarmos do passeio em si, vou relatar como as coisas podem sair do controle e tornar a viagem, digamos, mais interessante. Afinal, quem nunca ouviu falar em extravio de bagagem?

Chegamos no Rio de Janeiro depois do almoço e devíamos sair às 18hs, aproximadamente, com destino a Milão (conexão em Lisboa). Era setembro e a viagem prometia muito. Estava com minha esposa e os pais dela, prontos para conhecer a Itália de norte a sul. O plano era descer até Capri, ilha ao sul na famosa bota mediterrânea (não confunda com a gigante Sisília).

O aperto começou por causa do atraso no voo da TAP. Como chegamos uma hora atrasados em Lisboa, perdemos nossa conexão para Milão. Tivemos de ir para Madri e de lá pegar outra aeronave para o destino planejado. Frustrados, pois já sabiamos que perdemos tempo precioso, fomos para a fila da imigração. Tranqüilo. Após uma piadinha sem graça, o oficial da imigração deixou nós quatro passar sem muita onda. Teve gente que não teve a mesma sorte.

Para aproveitar a deixa, vai ai a dica: não viaje sozinho e, se for mulher, jamais use roupas justas, decotadas ou chamativas. Pouca maquiagem, porque para eles o 'estilo tropical brasileiro' é um pulo para cair na prostituição. E não tem choro, mandam de volta mesmo.

Em Madri soubemos que nosso próximo avião seria da Alitália. (...) 'Alitália? Não estão de greve?' 'Não', respondeu a comissária, 'estão falindo...' Bom saber, afinal tivemos dois acidentes no Brasil há poucos meses, mas as Cias eram financeiramente sólidas, pensei.

O voo da Alitália parecia um curta da série 'Apertem os cintos, o piloto sumiu.' O avião balançava e fazia mais barulho que uma charrete.

Milão finalmente, com oito horas de atraso e em outro aeroporto, diferente do planejado. Passa o tempo, uma turma na esteira e nada das malas. Bingo!, não tem malas. 'Elas se perderam' no caminho. Vamos para o balcão da Alitália. Cade as malas? 'Estão com a TAP, em algum lugar'. E não tem balcão da TAP neste aeroporto. (...)

Aqui no blog é facil descrever, porque no dia, cansados e com um jet-lag de 36 horas na cabeça, tentando falar em italiano, rapaz... complicado. Para resolver, deveríamos deixar o nome e endereço do Hotel que eles iriam entregar as malas para a gente. Hotel? Endereço? Passaríamos por mais de dez cidades, de trem até Capri: como era possível deixar tanta informação? Não tem mais mala, nunca mais, pensei. Relaxa, vamos em frente. Deixamos uma cópia do roteiro que a Ana preparou (em portugues) para o 'tiozinho' italiano no balcão. (...com certeza nunca mais vou ver minhas malas...) Vamos comer alguma coisa e fazer o check in no Hotel. (...)

Milão! estilistas famosos, grandes times de futebol e uma das maiores cidades da europa:
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Uma cueca, uma camiseta sem vergonha e um par de meias a 50 Euros? Catzo!, porque eu não coloquei nada disso na minha mochila?

Para encerrar a perda das malas, vamos colocar as coisas da seguinte forma: cinco dias com a mesma roupa - nas fotos, estamos sempre com o mesmo visual. Lavava as peças intimas nos hotéis e devo ter queimado uns três secadores de cabelo até aprender bem como se faz para secar meias e cuecas. Entregaram as bagagens apenas em Veneza, o que foi muito bom, pois pudemos viajar bastante, a pé e de trem pelas cidades, sem ter malas para carregar. Depois, já no Brasil, a TAP indenizou a gente pelo transtorno após duas ligações simples e um pedido formal por email. Se a TAM e a GOL fossem assim...

E hoje para qualquer lugar que eu for, sem exceção, levo na mochila um jogo de cuecas, meias e escova de dentes para o caso de uma eventualidade. Depois eu posto mais informações, fotos e videos. ; )

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Fim do Mundo



Ca estamos de volta e desta vez vou falar do Fim do Mundo. Isso mesmo, com letras maiúsculas porque não se trata de previsão bíblica, mas apenas de um lugar muito especial no sul da Argentina. Na verdade, não devo falar apenas 'no sul da Argentina'. Isso é muito pouco para podermos descrever a cidade (Ushuaia) mais austral do mundo. Isso mesmo, o local permanentemente habitado mais ao sul do planeta. Abaixo do paralelo 42, se não me falha a memória, e isso tem várias e sérias implicações, ao menos para quem mora lá ou deseja visita-la. Vejamos:
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Carnaval com grana. Sim, isso é dificil acontecer, mas nos permitiu comprar o primeiro passeio 'exótico', com direito a uns dias em Buenos Aires e El Calafate. Depois eu falo mais sobre esta última cidade - bem bacana, por sinal - porque tenho muito texto ainda pela frente.
Bem, era algo que eu sempre quis fazer, ir até o ponto mais ao sul do continente. Desde pequeno eu olhava o mapa e imaginava o que poderia ter lá na tal da Terra do Fogo. Afinal, porque alguém chamaria um lugar presumivelmente MUITO frio de terra do fogo? Vulcões? Podia até ser, afinal a cordilheira dos andes acaba por alí...
Daí chegamos na primeira informação interessante e veio novamente dos famosos exploradores espanhóis (lembra deles em Monte-VI-DEO?): diz-se que o nome é de autoria de Fernão de Magalhães, aquele famoso explorador português e primeiro quase circunavegador da terra. O coitado morreu no caminho, mas o relato da aventura é incrível (vide leitura sugerida: Além do fim do Mundo). Ele estava a serviço da coroa espanhola buscando uma passagem alternativa para as Indias Ocidentais sem ter de passar pelo Cabo das Tormentas. Navegando pela costa americana, ele e a tripulação viam do convés do navio, de noite, muitas fogueiras acesas na praia. Não podiam imaginar que aquela terra, fria pra dedéu, podia ser habitada. Os marujos supersticiosos especularam um monte de coisas: pensaram que fossem espíritos malígnos, dragões e bichos estranhos, ou furos na 'beirada do planeta' (estamos falando de 1519, quando não se tinha certeza que a terra era redonda)- etc, etc. Mas, para encurtar a estória, no fim o lugar ficou com o nome de 'Tierra del Fuego' - espanhol mesmo, no original - e, seus habitantes, os 'Fueguinos'. Esses caras, os índios, deram origem a muitas lendas. Apenas para se ter uma idéia, eles não tinham pêlos, andavam descalços e não usavam roupas nem no inverno. Tinham lá uma manta precária de pele animal que parecia mais um cobertor de indigente e enfrentavam o frio passando óleo de baleia no corpo com areia (imagine a cena...rs). Moravam em tendas igualmente precárias, eram baixos, fortes e pescavam leões marinhos de mais de meia tonelada em canoas feitas de pele! Dizem que a última índia 'pura' morreu há poucos anos. Mas houve tempo, ao menos, para o homem branco 'catalogar' bem a espécie antes de dizimá-la. A teoria mais aceita, diz que esse povo viveu na região durante dez mil anos e demorou menos de cem para serem exterminados pelo homem branco, após o início da colonização da área. É um caso clássico da antropologia. Museus, livros e até e filmes foram feitos sobre os antigos habitantes da região:
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Pois bem, voltando ao lugar, podemos dizer que a Terra do Fogo, o Fin Del Mundo, ou simplesmente Ushuaia (a pronúncia do 'sh' é com som 'z' e não 'ch') é uma região de intenso contraste. É o Alasca sul americano e não fica devendo nada a ninguém. Para se ter uma idéia, é uma das pouquíssimas regiões do mundo onde se pode esquiar 'ao nível do mar'. Cerro Castor é o ponto de referência para o esporte. Do quarto do nosso Hotel víamos o mar e, ao fundo, a Cordilheira dos Andes, com vários picos cobertos de neve.
Quem tiver ímpeto aventureiro e deseja ver o 'lado selvagem da vida' deve fazer dessa viagem destino obrigatório. É possível acampar nos parques nacionais e o visual é deslumbrante. Voce tem contato direto com os extremos do planeta, como por exemplo, temperaturas baixíssimas, ventos que 'descem' do céu com tanta fúria que espalha um 'quarteirão' de árvores pelo chão, além das clássicas mudanças repentinas nas condições meterológicas. Tem vários glaciares na região próxima a cidade que matêm micro-climas próprios. Para quem nunca esteve próximo de um glaciar* (massa gigantesca de gelo que se forma com a neve acumulada sobre as montanhas e desce em paredões por força da gravidade) e deseja saber como é a sensação térmica, basta tomar um ducha fria e se trancar por uns trinta minutos, ainda molhado, num freeser.
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A região tem muitas baías (Baia Lapataia, p ex.), penínsulas e montanhas. Uma floresta exuberante nas areas mais baixas e fauna diversificada. Vale a pena passar no Museu de História Natural para ver os vários espécimes: de tatarugas a pinguins, todos gigantes, e outros tantos bichos empalhados. Vários extintos por força da ação do homem, mas hoje em dia ainda pode se ouvir as batidas dos pica-paus que proliferam na mata. Para piorar, alguns idiotas pensaram em faturar uma grana com peles de castores, trazidos do Canadá. Esses bichos acabaram fugindo do cativeiro e, como não tem predadores naturais na região, proliferaram. Por natureza, fazem diques, que por sua vez formam grandes lagos, matam muitas árvores e forçam outros animais silvestres a abandonar o local. Teve situação semelhante com coelhos que também viraram uma praga. Teve ainda pesca predatória, matança de aves etc etc. A Terra do Fogo só está de pé por milagre.
Lembramos ainda que a região foi objeto de contenda entre a Argentina e o Chile. Fato que obrigou o Papa a intervir na solução. Para não ter mais problemas com posseiros e colonizar a terra, o governo argentino criou uma prisão, hoje desativada. Conta-se que muitos presos, inclusive da época da ditadura, após fugirem, passavam tanta fome e frio na floresta que pediam encarecidamente para voltar as suas celas. É zona franca!, com ofertas irresistíveis de vários produtos, desde vestuário a bebidas e perfumes. Trajeto contumaz de cruzeiros que vem de Buenos Aires e Punta, o Canal de Beagle (navio no qual Darwin passeou por tres anos) liga o Atlântico ao Pacífico e ainda é berço esplêndido de colonias de leões marinhos, focas animadas e muitos pinguíns. No Carnaval a temperatura gira entre zero e dezesseis graus Celcius. Tem muitos bares, cafeterias e apesar da cidade não ser a mais bonita do mundo, tem lá seus encantos. Faça todos os passeios disponíveis, mas verifique antes com a operadora, pois uns e outros podem ser a mesma coisa, com nomes diferentes. Se voce quer ter uma breve noção do que se pode fazer no Ushuaia, veja só este video:
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Para terminar recomendamos que deixem os testamentos prontos antes da viagem: as condições de pouso em Ushuaia podem ser horríveis, com muita neve e vento. Os pilotos da Aerolineas argentinas são bosn, mas os aviões... Nosso voo taxiou na pista e foi até a cabeceira, pronto para decolar. Após alguns minutos, voltou a plataforma e desligou os motores. Nisso veio um 'tiozinho' de macacão, com uma maleta e uma escada. Todos a bordo sem entender nada... O cidadão encosta a escada na asa, pega um martelo e dá-lhe cacetadas. Pléin, pléin, pléin... Coça a cabeça, olha para o piloto e dá sinal de ok, com o polegar. Tira a escada e vai embora, enquanto o avião seque para a pista de decolagem e nós rezamos sem saber o que vai acontecer. Afinal, o destino era mesmo o fim do mundo. : )